"Uma jornada de 200 quilômetros começa com um simples passo"

domingo, 14 de março de 2010

Confusão no XI Aberto Festa da Uva - FINAL

Olá pessoal!

Depois de ver a carta aberta do Diamant, ver o vídeo e ver a primeira publicação feita pelo Vescovi em seu blog sobre o assunto eu decidi que tinha que repassar o ocorrido e com opinião declarada.

Pois bem, agora acabei de ver a publicação de Vescovi se defendendo sobre o assunto e creio que a história que ele conta se encaixa perfeitamente ao ocorrido, ainda mais tendo acompanhado sua história enxadrística e sabendo de sua fama no Brasil.

Tendo conhecimento da história completa, eu venho aqui dizer que eu estava errado e peço desculpas ao Giovanni Vescovi pelas conclusões precipitadas em relação à sua atitude!

Deixo abaixo o texto que Giovanni escreveu em seu blog e depois o vídeo mais completo a respeito da confusão da partida com Diamant

"Em atenção aos inúmeros comentários do post anterior, farei minhas observações. A primeira delas é a respeito da natureza dos comentários, que partiram para um rumo bastante negativo. Evidentemente tive que excluir uma série deles, pois o tom ofensivo e calunioso foi exagerado, para dizer o mínimo. Outros, apesar de críticos, foram mantidos pois acho importante que as opiniões sejam manifestadas, e para falar a verdade, vários chegam a ser engraçados. Apesar da quizumba, alguns comentários foram muito perspicazes, interessantes, impessoais e construtivos. Não citarei nomes, mas aqueles que os fizeram saberão que me dirijo a eles.

Vamos ao mérito. O primeiro ponto a ser tratado é a respeito da minha alegação sobre o relógio não funcionar direito. Sobre esse ponto, naquele mesmo dia o Diretor do torneio e organizador principal me falou que após a partida verificaram o relógio e, de fato, conforme a batida ele funcionava ou não. Essa constatação foi corroborada por escrito. Ponto. Já que tanto falam de minha formação jurídica, posso dizer que tenho provas documentais da organização do torneio, que produziu sua prova pericial imediatamente após o fato.

E se o relógio não funcionava, minha reclamação era totalmente justificada e a troca do relógio era a única solução possível, pois de acordo com o Apêndice das Leis do Xadrez, mesmo em uma partida de blitz aplicam-se regras de torneio no caso de haver um árbitro presente, naquilo que não contrariarem as regras específicas de blitz. O árbitro pode e deve trocar um relógio com problemas por um que funcione direito, caso solicitado. Ainda, com base no art. 6.10.a do Handbook, “
the arbiter shall replace the clock and use his best judgment when determining the times to be shown on the replacement chess clocks”.

O segundo ponto é a declaração do André e o vídeo postados no site do Krikor. Curiosamente, esse vídeo mostra apenas a parte que lhe convém. Antes daquele momento o relógio já havia parado de funcionar e a partida já havia sido interrompida uma vez por este motivo. Duvido muito que o Andre tenha se esquecido disso quando escreveu sua carta. Este vídeo (no blog do Krikor) também não mostra como a partida continuou, não mostra que o árbitro ajustou o novo relógio e submeteu-o à apreciação de ambos, que concordaram com tais condições. E não mostra como a partida terminou: as brancas tinham vantagem de tempo, mas perderam por tempo, quando as pretas estavam dando xeque perpétuo.

Como pude ver, muita gente se interessou pelo assunto. Assim sendo, não terão dificuldades em encontrar um outro vídeo no YouTube, gravado de um celular, mas com quase seis minutos de duração. Este vídeo mostra a primeira interrupção por problemas no relógio. Ao perceber isso, em vários momentos eu precisava verificar se o problema persistia ou não. Mostra também que o André concordou com o ajuste feito pelo árbitro e mostra como a partida seguiu.

Meu erro no episódio foi instintivo: pegar o relógio na mão para solicitar sua substituição, no que contrariei o art. 6.7.c. Minha opção era baixar meus batimentos cardíacos, ficar mais calmo e desconsiderar o prejuízo já sofrido. Não me lembrei de fazer isso, mas nem por isso devo fazer qualquer retratação ou pedido de desculpas. Não devo nada a ninguém. Não sei se o árbitro podia interferir, pois no blitz a intervenção de um árbitro só é feita a partir de um pedido do jogador. Existem regras, e já que meu adversário pretendia jogar pelas regras e derrubar minha seta, ele bem podia também utilizar as mesmas regras e apresentar um recurso tempestivo. Não o fez porque não quis ou entendeu não caber.

Eu gosto do jogo de xadrez por vários motivos, mas um deles é de que numa partida não há espaço para meias-verdades. Ao ler a declaração do André fiquei decepcionado, pois ele procurou ocultar vários pontos acima: negou que eu tenha pedido para ele ajeitar as peças anteriormente (o que ocorreu bem antes e nem mesmo foi comentado em tom de crítica, mas apenas para mostrar que as peças não eram adequadas), deu a entender que aquele (o do video do blog do Krikor) havia sido o único momento de reclamação do relógio quando ele sabia não ser verdade. Isso para não comentar sobre sua insinuação ofensiva e de extremo mau gosto em seu msn.

É uma pena ele enveredar por esse rumo, fazendo falsas acusações, mesmo se baseando numa auto-justificativa de se sentir injustiçado. Em nenhum momento eu o ofendi, e procurei ser o mais objetivo possível, tendo inclusive reconhecido se tratar de uma “
lose-lose situation”, onde não haveria desfecho justo possível, tendo eu tido a sorte de ter sido mais rápido no final. Aliás, até a publicação da tal carta aberta, o André não havia agido errado em nenhum momento, pois não era culpa dele o relógio não funcionar direito. Mas depois destas manifestações, se alguém precisa se desculpar e retratar aqui, esse alguém é o André, seu pai e todos os anônimos e não-anônimos que levantaram ofensas descabidas.

Como bem observou um internauta, não tenho motivos para agir de má-fé, coisa que nunca fiz, pois sei que para se construir uma reputação leva-se toda uma vida, mas para destruí-la, basta um erro. Isso não significa, no entanto, que não posso defender meu ponto de vista, ou lutar por meus direitos ou aquilo que entendo ser correto.

Em resumo, toda essa balbúrdia foi criada pelo fato de eu ter segurado o relógio, numa reação instintiva e sem dolo. O André podia ter reclamado ao árbitro ou a mim, mas não se manifestou. O jogador tem todo direito de parar o relógio e reclamar ao árbitro, como eu fiz. E o árbitro atende (no caso do relógio) ou não atende a reclamação (no caso de empate em blitz).

Agora acho que esse assunto já deu o que tinha que dar, e com o perdão, encheu a paciência, pois não estava nos meus planos gastar tanto tempo para ficar dando satisfações (que não devo) ao invés de falar sobre algo mais interessante, como as partidas da Katita em Catanduva, ou do nosso amigo Ivanchuk em Nice.

No mais, aproveito para transcrever abaixo a tal partida:

Diamant x Vescovi
Caxias do Sul (Armaggedon) 2010

1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bb5 Cf6 4.d3 d6 5.c3 g6 6.0-0 Bg7 7.Cbd2 0-0 8.Te1 Bd7 9.Cf1 Ca5 10.Bxd7 Cxd7 11.d4 Cc6 12.d5 Ce7 13.c4 h6 14.b4 a5 15.bxa5 Txa5 16.Bd2 Ta3 17.Bb4 Ta6 18.Dc2 f5 19.C1d2 b6 20.a4 Cf6 21.a5 c5 22.dxc6 bxa5 23.c5 Txc6 24.Bxa5 Db8 25.Teb1 De8 26.Db3 Rh7 27.cxd6 Txd6 28.Bb4 Tb6 29.Ta7 Txb4 30.Dxb4 Cc6 (acho que foi após este lance que percebi pela primeira vez que o relógio das brancas parou de andar) 31.Txg7 Rxg7 32.Dc4 Cxe4 33.Tb7 Rh8 34.Cxe4 fxe4 35.Dxe4 De6 36.Dh4 h5 37.Dg5 Tf7 38.Txf7 Dxf7 39.Cxe5 Cxe5 40.Dxe5 Rh7 41.h3 Dd7 42.g3 Dxh3 43.De7 Rh6 44.Df8 Rh7 45.Df7 Rh6 46.Df4 Rg7 47.De5 Rf7 48.Dd6 De6 (a partir daqui foram muitos lá e cá de dama, etc) tempo 0-1"


Até mais!

Daniel Yoshito Ikejiri

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